segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Geração o quê?


A REDE SOCIAL

Escrevo este texto a partir da crise (aliás, vivo em crises pelo jeito) causada em mim pela obra "A Rede Social", dirigida por um de meus diretores favoritos, o sempre competente e mais que tudo, inteligente, David Fincher. À primeira vista tudo me cheirava a grande oportunismo, afinal, uma rede social que conta com mais de 500 milhões de usuários teria potencial de sobra para inflar qualquer bilheteria. A história da criação do Facebook, porém, está longe do lugar comum e da previsibilidade: é ágil, dinâmica, intensa, imprevista e acachapante... como a geração que retrata e à qual se dirige.

Refiro-me à cada vez mais noticiada Geração Y, aquela nascida após os anos 1980 e que bastante familiarizada com a tecnologia e com os novos paradigmas de comunicação, não vivem sem um celular com múltiplas funções e sem fazer parte de pelo menos quatro redes sociais. O Mark Zuckerberg do filme, interpretado com compenetração e diligência pelo surpreendente Jesse Eisenberg (que constrói um nerd bem diferente daquele que vemos em Zumbilândia), é ao mesmo tempo, um exemplo notável dessa geração da Era da Informação e também um paradigma de um arquétipo universal e recorrente ao longo da história humana: os gênios. Zuckerberg se parece com tantos casos da história (e do cinema) em que uma boa ideia rende uma vida eterna nadando em milhões e em luxo, o que inspira e motiva milhares de aspirantes e diletantes. O que o torna singular é o fato de que sua ideia é cada vez típica dessa geração Y, e cada vez mais urgente.

O filme se passa entre 2003 e 2004, mas é quase possível enxergá-lo como um filme de época, pois naquele mundo, não havia redes sociais aos milhares, iphones e ipads. E isso é assustador... Em uma década revolucionamos a forma de nos relacionar, de interagir, de viver, enfim. Como diria Nicolau Sevcenko, perdemos a sensibilidade à mudança e é isso que me atemoriza! Não quero me ver absorvido por uma onda que a tudo traga e domina. Não quero me perder num mundo em que egos e vaidades explodem na alma de uma recém-adulto de vinte e poucos anos que consegue conceber uma forma genial de conectar as pessoas sem conseguir manter a única amizade que de fato representava uma conexão para si.



Explorar contudo esse aspecto do filme é a primeira e mais óbvia leitura que Fincher nos coloca. O paradoxo de um tempo em que se é cada vez mais solitário tendo ao mesmo tempo milhares de "amigos", a denúncia dos riscos de se perder na fronteira entre o real e o virtual e a crítica voraz da inconsequência a que se pode chegar a partir deste estilo de vida encarnados no personagem Sean Parker são evidentes, mas não por isso menos contundentes.

O retrato desse tempo é perfeito, e creio que "A Rede Social" tende a crescer no gosto dos críticos com o tempo. Tem a agudeza característica de algumas obras que conseguem captar a essência de seu tempo e eternizá-lo. A mim, fica a sensação de que não pertenço ao aqui...

Meu anacronismo particular me incomoda. Não tolero MSN's, Twitters e Facebooks. Não abro mão do toque, do contato, da vivência pessoal. Me recuso a ser vencido pela celeridade do tempo e tento me desacelerar a todo o custo. Sou da Geração Y mas não me sinto parte dela. Não sou avesso à tecnologia, mas me privo de celebrar cada touchscreen que se me apresenta.

Porque no fundo, o que rege esse meu tempo intemporal é um princípio eternizado: "Vaidade de vaidades: tudo é vaidade". "A Rede Social" é uma epopeia do ego, uma efeméride do gênio pessoal de uma geração, uma celebração do umbiguismo de meu tempo. A cena final do constante atualizar reitera a sabedoria de Salomão: o bilionário mais novo do mundo sofrendo com a necessidade de ser aceito. Todos temos essa necessidade, e é doloroso que em nosso tempo a aceitação atual não se refira a um olhar de acolhimento, mas a um clique no botão esquerdo do mouse. Envolvido em sua self made fortune, Zuckerberg encerra o filme só, após a incrível capacidade de ferir a todos que realmente importavam. Do que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma?

"A Rede Social" entra para uma lista seleta de obras incrivelmente atuais. É o retrato de minha geração, ainda que meu espelho me mostre outra face.

A propósito, cancelo hoje minha conta no Facebook...

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A diplomacia dos relacionamentos



Sessão Joe Wright – Orgulho e Preconceito

Por uma questão de acertos pessoais, submeti-me essa semana a uma tarefa absolutamente deleitosa: assistir em uma tarde a duas obras de arte em cinema do diretor Joe Wright. As duas adaptações de romances consagrados são fascinantes, absurdamente bem feitas, e cativantes em cada um de seus mínimos detalhes.

Inicio com Orgulho e Preconceito, estrelado pelos competentíssimos Keira Knightley e Matthew MacFadyen (além da sempre brilhante Brenda Blethyn, que me marcou a memória por “Segredos e Mentiras”). A adaptação do romance de Jane Austen põe diversas questões em relevo, através de uma narrativa deliciosa, bem ritmada, e com um apuro técnico digno da obra a que se propõe adaptar.

Não quero discutir aqui o vulto da obra de Austen na literatura mundial, nem somente a eficiência na transposição do mesmo para a linguagem cinematográfica. Para quem não conhece a história, é difícil não acrescentar spoillers ao falar sobre a mesma. Basta saber que o livro apresenta uma situação arquetípica que é modelo para as comédias românticas insossas da atualidade: a) mulher conhece homem; b) apesar de ficar claro para o espectador que nasceram um para o outro, diversos revezes os impedem de ficar juntos; c) acontecimentos variados aproximam novamente o par, que vai aos poucos ultrapassando os limites e as barreiras que se apresentavam no início; d) no clímax, quando tudo parece dar errado, finalmente os dois conseguem ficar juntos.

O que eleva a obra de Wright a outro patamar está contido em duas questões. Primeiramente, o ineditismo da estrutura. Austen escreve na passagem do XVIII para o XIX. À época, anterior mesmo aos romances genuinamente românticos, surpreende a capacidade de injetar sob a superfície aparentemente previsível, observações perspicazes sob a ordem social que se consolidava na Inglaterra. A estrutura que vemos tipicamente representada nos filmes da era Vitoriana (o século XIX inglês) está ali posta: o rígido sistema que separa a aristocracia dos empregados que a sustentam. A conclusão está clara: orgulhosos e riquíssimos aristocratas com preconceito pelo populacho vulgar e sem modos.

Contudo, as reflexões que Wright estampa na tela são também de outra monta. Não são apenas de ordem social, mas também no que se refere à natureza das relações do ser humano. E não falo da sociabilidade, mas da pessoalidade, do quanto ao nos relacionarmos, ansiamos pelo táctil, pelo palpável, pelo tangível. Suportar a hilariante fleuma com que os britânicos se relacionavam (e talvez ainda se relacionem) é um choque para nosso viés latino. Mas é também, por que não, um aprendizado.

Entendemos que não podemos dizer, expor, manifestar em sua plenitude aquilo que somos. Aprendemos que a polidez e a diplomacia que se impõem aos relacionamentos têm sua razão de ser. Obviamente não me submeteria a um ambiente em que as paixões são tão eficientemente reprimidas e atenuadas, manifestadas em doses homeopáticas de bom senso. Mas é fundamental perceber que há uma diplomacia necessária entre os seres humanos, uma falsidade benéfica, uma hipocrisia desejosa. Não seja tudo o que deseja. Não ceda a todos os caprichos. Não obedeça a todos os impulsos. Há determinadas normas de convívio. Há limites, e isso é ótimo.

É claro que as relações que se descortinam em Orgulho e Preconceito são a aparência do caricatural. Por outro lado, me recuso a atender a todas as expectativas, me submeter a todos os ditames sociais e me policiar a todo instante no sentido de satisfazer aquilo que esperam que eu seja, que eu faça, que eu compre, que eu coma, que eu viva. Mas no liberal século XXI, triste é constatar que moderação, domínio próprio e temperança são artigos em falta no mercado dos relacionamentos interpessoais. Não seria demais lembrar que pode ser surpreendemente satisfatório pensar um pouco nas expectativas dos outros.

Entre o excesso de pudor saxão e a ternura envolvente dos latinos, há um lugar em que talvez esteja a sabedoria disso que nos é essencial: relacionamentos.

Tempo Novo


Em história aprendemos a amar o tempo. A forma caprichosa com que se deixa inelutavelmente caminhar, ora acelerando, ora retardando as mudanças, os processos, a vida. Sem tempo não há história, não há graça, não há...

Aprendemos também que o tempo é uma mera construção cultural. Chineses e muçulmanos comemoram anos novos em outras ocasiões, fazendo do 31 de dezembro uma data a mais de aproximação com o Ocidente gregoriano. Mas mesmo assim, ainda que tentasse, me obrigo a neste dia parar, pensar, medir, avaliar, ponderar e claro, planejar.

O que fui, o que sou, o que serei. As três dimensões temporais me ultrapassam. O que me importa mais? Meu passado que muitas vezes me incomoda, me envergonha ou quem sabe, me mostra como fui bom? Meu presente que me assalta sem pudores, me priva do descanso, me assoberba com as imediaticidades? Meu futuro, que se descortina pouco a pouco, nebuloso e sarcasticamente surpreendente?

Procuro fugir das trivialidades. As mensagens rotineiras de fim de ano muitas vezes me cansam pela demagogia e pieguice. Mas é bom saber que amanhã um novo ciclo irrompe, sem pedir licença ou permissão. Amanhã virá, não tenho dúvidas, e ainda que talvez não desejasse, novos compromissos, responsabilidades, temores, dores, alegrias, vitórias, medos, incertezas, descobertas, aventuras se acumularão e se apresentarão. Como vivê-las?

Bem, meu compromisso de fim de ano é viver. Não obliquamente, mas experiencialmente. Quero experimentar a vida, provar, testar, saber do que se trata, do que é feito, do que não é.

Quero experimentar as pessoas em suas diferenças, em suas falhas, em suas qualidades (que muitas vezes mostram as minhas falhas). Quero sorver o meio, o sol, a chuva, os odores. Quero lembrar que o tempo é antes de tudo uma invenção, uma criação divina, pois antes de fazer qualquer coisa, Deus criou o tempo para que as coisas fossem ancoradas em algo.

Quero que o tempo não me domine. Quero entrar no atemporal. Abandonar o chronos e entrar no kayrós. Não me importa o passado. Meu futuro a Deus pertence. Meu presente é um lapso, um efêmero vislumbre da eternidade.

E me ocorre que o bom do ano novo é perceber que adoramos ciclos. Iniciar, viver, encerrar. Como seria viver sem um ciclo, sem saber que haverá um fim, que um dia, queiramos ou não as coisas mudarão?

Entraremos em mais um ciclo, mais um ano. Que ao final dele, eu me sinta melhor, me abra pra balanço, pese os muitos “prós” em detrimento dos (espero) não tantos “contras”.

Que neste ciclo você se disponha, se anime, se perceba. Mas lembre-se: só há sentido quando o que fazemos tem um propósito. O meu? Viver de uma forma que me aproxime cada vez mais do tempo em que o tempo não fizer mais sentido.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Minha Crise de Natal


As musiquinhas, como de ninar, trazem a mensagem universalmente conhecida: “Noite de paz, noite de amor, tudo dorme em derredor. Pobrezinho... nasceu em Belém!” E lá se vão diversas outras musiquinhas, repaginadas em samba, funk etc., embevecer os ouvidos nessa época anual.

Sou cristão, mas posso dizer que não gosto do Natal. Quer dizer, gosto demais do Natal... mas não desse que me satura com suas decorações bregas, receitas baratas de panetone e hipocrisia generalizada pairando no ar. Por um só ano, desejaria que o verdadeiro Natal fosse comemorado. Minha versão natalina do hino acima poderia ser: “Noite de tensão, noite de perseguição, diversas crianças são assassinadas por conta de um rei megalomaníaco. O Rei de toda a Terra, Senhor do Universo que de pobre não tem nada, escolheu revelar-se pobre não porque nasceu em uma manjedoura, mas porque simplesmente fez-se homem, e não há pobreza maior do que essa!”.

Há tempos que leio sobre uma versão higienizada do Natal. As pessoas se esquecem do real contexto no qual o Rei das Nações veio à Terra. Na verdade, as pessoas se esqueceram – ou muitas jamais souberam – quem foi realmente aquele que nasceu em Belém. Como diz um autor de quem gosto muito, por eras cortaram-se as unhas e aparou-se a juba do Leão da Tribo de Judá, domesticando-o em um gato de estimação que existe para suprir nossas necessidades pessoais. “Hei”, brada minha alma a cada pisca-pisca de mau gosto que encontro e a cada Papai Noel fajuto com quem me deparo, “ele veio trazer espada e não paz! Ele veio revolucionar e calar a boca da religiosidade fétida de sepulcros caiados! Ele veio tumultuar a noite plácida de pastores humildes e rejeitar a ostentação faustosa das megaigrejas! Ele veio desafiar as convenções, subverter a mesmice e revolucionar a história! Ele veio ensinar sobre como devemos viver uma vida distante do conforto que os bens de consumo insistentemente nos obrigam a desejar! Ele veio dilacerar o seu interior com suas garras, dessintonizar as frequências monótonas da retórica de sua hipocrisia irritante com seu rugido, reverter o fluxo de sua vida pré-programada segundo as expectativas do mundo com o brilho dos seus olhos!”

Rejeito o Jesus indefeso por força das circunstâncias e não por opção. Rejeito os coros serenos que não refletem o terror que os anjos infligiram nos pobres pastores, atemorizados pelo inesperado e pelo sobrenatural que é Cristo. Rejeito a manjedoura sem cruz, o ouro sem espinhos, o incenso sem cravos e a mirra sem sangue. Rejeito o Natal de “paz e amor” da era de aquários, da falsa paz que o mundo não dá, e do amor interesseiro baseado na reciprocidade.

Anseio pelo meu Natal. O meu particular. Que encontra o estábulo dentro de um sepulcro vazio. Que coloca os anjos dos pastores com os anjos de Maria Madalena no domingo da ressurreição. Que faz nascer em mim a morte. A minha morte. Cotidiana, difícil, dolorosa e distante, porque falta muito. Rejeito o Natal da vida do menino que não pensa na re-vida concedida ao Amado. Essa vida não tem sentido sem a outra. Minha vida não tem sentido sem nenhuma delas...

Anseio pelo Jesus que me dilacere com a Espada afiada de sua boca, me queime com o fogo de seus olhos e me cegue com o reluzir dos seus pés de bronze e com a alvura de seus cabelos. Sua primeira vinda só tem sentido com a segunda! Celebro a primeira, espero ardorosamente pela segunda...

Se este Natal ainda não está em ti, recomendo que faças da Ceia de logo mais um banquete teu, e não de Natal. Quando te vires diante do Rei e fores sondado com a profundidade de seu olhar, pelo menos serás sincero ao dizer que pra você, o dia 25 de dezembro era um dia todo teu, em que podias te fartar com comidas, bebidas e presentes. Pena que, caso seja essa tua resposta, não poderás fazer parte do melhor banquete, o eterno, reservado aos que fizeram do Natal e da Páscoa o sentido de cada inspiração e expiração ao longo de sua existência.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Deslumbrante vida


Dias desses, fato novo se deu. Segurando a pequena mão de um bebê de ano e meio, dando relutantemente seus primeiros passos, surpreendeu-me ouvir pela primeira sua frágil, mas enfática voz “Qué descê!”, ante um gigantesco degrau de dez centímetros. A experiência corriqueira para muitos, reacendeu em mim algo que jamais poderia permitir que se esvaísse: um encantamento genuíno e entusiástico pela vida!

Saudável o hábito daquele que se permite deslumbrar com o pequeno, o humilde, o simples e o corriqueiro. Feliz aquele que se alegra com um belo céu, uma brisa suave, um sorriso inesperado, um bom atendimento. Bem-aventurado o que contempla o esplendor no mínimo, e diagnostica a vibrante e excelente vida nas mais discretas manifestações ao seu redor.

E foi assim que aquela menina que há pouco sequer existia, subitamente se revelou um Ser, uma Palavra encarnada, um Sonho concreto, uma Ideia materializada, um Desejo realizado. E foi ao constatar isso naquela voz, naquele olhar e naqueles dedos apaixonantes que dependiam de minha mão, que me dei conta de que a vida é grande em ser pequena, e que o deslumbramento ante seus caprichosos detalhes, constitui atitude de soberana felicidade.

Crescer dói?


TOY STORY 3

Pretendo registrar aqui ideias que me surgem a partir de uma de minhas paixões: cinema. Inauguro a seção com uma obra prima: Toy Story 3. Pueril? Deixe-me convencê-lo.

Antes de mais nada começo a acreditar na infalibilidade dos estúdios Pixar. Impossível sair coisa ruim de mentes tão apaixonadas pelo seu ofício – e aqui já temos uma bela lição de como é fundamental buscar a excelência e de como ela é recompensadora (e não me refiro somente aos lucros astronômicos da série). Diferentemente da onda descerebrada que ronda Holywood nos últimos anos, produzindo a torto e a direito remakes, reboots e continuações, a Pixar dá um banho de originalidade produzindo continuações somente quando sabe que tem uma boa história pra contar, muito mais do que piadas fáceis e clichês para reproduzir.

Sobretudo porque assistir a um filme pixariano é uma experiência de vida. Minha primeira lembrança sobre Woody e Buz Lightyear não é boa. No auge de minha maturidade de 11 anos, fiquei revoltadíssimo quando as figurinhas que colecionava – Ping Pong Records Guinnes, jamais completas graças à “Monalisa”, o quadro mais caro do mundo que nunca se dignou a surgir envolvendo meu chiclete – foram substituídas por aqueles infames brinquedos de um “filmezinho de criança” qualquer. Bem, o tempo passou e a animação se consolidou como uma de minhas paixões – e como uma novidade no mercado cinematográfico outrora dominado pela Disney.

Com Toy Story 2, a paixão se firma e ao filme, devo ainda outra descoberta. A brilhante sacada de Zurg e Buz me fizera ficar aficionado por Star Wars, mas a piada não é tão óbvia e superficial. A referência à obra de George Lucas é mais interessante. A exaltação do western através dos outros bonecos da coleção de cowboys de Woody reflete claramente o momento em que o cinema na década de 1970 assiste à ascensão da ficção científica (tema já presente no primeiro filme, na substituição e tensão entre Woody e Buz). E Toy Story 2 se revela melhor que o anterior, apontando já a reflexão deste último filme. O pinguim barulhento, a história de abandono de Judie pela dona crescida, a crise de Woody: tudo antecipava o momento do esquecimento dos brinquedos, da substituição e desapego.

Este é o foco em Toy Story 3. E é maravilhoso rir das sacadas geniais acerca de Barbie e do “metrossexual de plástico”, do brinquedo shakespereano e da versatilidade do Senhor Cabeça de Batata. Mas o que é mais maravilhoso é se identificar com aquele personagem que amadurece (ou que é obrigado a amadurecer) para a vida.

Completei recentemente um ano de casado! Maravilha! Família é bênção, esposa é bênção, casamento é bênção! Mas crescer dói! Não é simples a decisão, as responsabilidades que são suas, os problemas que são seus. Como para Andy, chega para todos o momento de abandonar as coisas de menino e se aventurar pelo que está adiante. É bom?! Claro! Não troco meu casamento pela minha vida de solteiro por nada neste mundo. Mas algumas coisas que ficaram para trás deixam lembranças indeléveis e te fazem refletir acima de tudo, na efemeridade disso que chamamos de viver.

E se minha primeira impressão destes brinquedos à época do primeiro filme não foi nada boa, a última é extasiante. Pois se lá no início, ao querer ser grande, perdi boas coisas de menino, agora que grande sou, permito-me entrar em um cinema e verter grossas lágrimas por brinquedos virtuais, mas prenhes de uma humanidade tocante que me lembram que as melhores coisas da vida estão nas pessoas ao meu redor.