quinta-feira, 1 de julho de 2010


Breve introdução:

Este é um blog em primeira pessoa. Falarei, pois, obviamente, daquilo que me interessa: Deus, família, Igreja, história, cinema, política... necessariamente nessa ordem. Feitas as ressalvas, caminhemos.

Creio em Deus. Fato não empírico, porém imensamente demonstrável. Incoerente? Para pensar a respeito, preciso falar de minhas aulas como professor de História da América, nas quais um dos atores históricos que mais necessitamos discutir é Cristóvão Colombo.

Homem admirável o senhor Colombo. Impregnado de uma crença inabalável, seguiu Atlântico adentro em direção às Índias e, vejam só, morreu acreditando que chegara a elas. Nada do que via, completamente diferente das narrações de Marco Pólo, o fazia retroceder em sua certeza de que havia chegado à Ásia, ao extremo leste do orbis terrarum, da Ilha da Terra. Por isso Edmundo O’Gorman afirma que Colombo não descobriu a América: simplesmente por que para ele, a América nunca existiu. Cito a tese interessante porque me identifico com este homem de espírito medieval. Explico-me destacando do texto de O’Gorman um fragmento: “Diz Marcel Proust [...] que os fatos não penetram no mundo onde vivem nossas crenças e, posto que não lhes deram vida, não as podem matar; podem estar desmentindo-as constantemente sem debilitá-las [...]”.

Vivo em um mundo que constantemente desmente minhas crenças. Ligo a TV e a chuva no Nordeste e no Rio, os terremotos no Haiti e no Chile, me fazem duvidar da existência de um Deus bondoso que a todos ama e a todos quer bem. Contemplo uma geração composta de famílias dilaceradas com adolescentes ditadores e problemáticos e me pergunto sobre a consistência e a validade desta instituição chamada família. Olho pra mim mesmo e no meio de meus erros, limitações, tentações e frustrações tento discernir (muitas vezes em vão), a pessoa do Deus Espírito que prometera habitar em mim tão logo eu aceitasse o sacrifício do Filho em meu lugar.

Contra fatos não há argumentos? Quem disse?

Abandono a mentalidade positivista e questiono a validade destes fatos. Tal qual Colombo me lanço no reino da certeza em busca do silenciamento da dúvida que badala no meu interior. E daí se o que vejo contradiz o que creio. Tão somente creio. Creio porque experimento o cuidado, o amor e a ternura encarnada em pessoas próximas. Creio porque o perfeito funcionamento do Universo não me concede outra possibilidade a não ser crer. Creio em Deus porque a despeito de minhas imensuráveis falhas me esforço em demonstrar coisas que naturalmente não conseguiria... coisas como delicadeza, paz, alegria, bondade, paciência...

Faith no more? Ainda não, mas haverá um dia em que a fé não será necessária. O dia em que verei com meus próprios olhos o que hoje posso apenas crer. Se a fé é a certeza do que não se vê, a visão não me exigirá mais a fé.

Por ora creio. E diferente do que disse Proust, minhas crenças emanam sim dos fatos. Emanam de uma madeiro cruzado erigido ao redor dos muros de Jerusalém e de um amor imensurável que ressoa pela história. É este fato que dá vida à minha fé. Não o vejo? Mas não caminho pelo que vejo. Desde quando pareceu sensato a alguém confiar em seus sentidos?






2 comentários:

  1. chorei...
    Tudo o que eu sempre quis dizer pra quem já riu da minha fé ou até pra mim mesma,às vezes tão incrédula.

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  2. Uau ... ahhhh que falta fez um professor de america que me falasse de Deus, Ou que pelo menos falasse da américa dos primordios!!! rs

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