TOY STORY 3
Pretendo registrar aqui ideias que me surgem a partir de uma de minhas paixões: cinema. Inauguro a seção com uma obra prima: Toy Story 3. Pueril? Deixe-me convencê-lo.
Antes de mais nada começo a acreditar na infalibilidade dos estúdios Pixar. Impossível sair coisa ruim de mentes tão apaixonadas pelo seu ofício – e aqui já temos uma bela lição de como é fundamental buscar a excelência e de como ela é recompensadora (e não me refiro somente aos lucros astronômicos da série). Diferentemente da onda descerebrada que ronda Holywood nos últimos anos, produzindo a torto e a direito remakes, reboots e continuações, a Pixar dá um banho de originalidade produzindo continuações somente quando sabe que tem uma boa história pra contar, muito mais do que piadas fáceis e clichês para reproduzir.
Sobretudo porque assistir a um filme pixariano é uma experiência de vida. Minha primeira lembrança sobre Woody e Buz Lightyear não é boa. No auge de minha maturidade de 11 anos, fiquei revoltadíssimo quando as figurinhas que colecionava – Ping Pong Records Guinnes, jamais completas graças à “Monalisa”, o quadro mais caro do mundo que nunca se dignou a surgir envolvendo meu chiclete – foram substituídas por aqueles infames brinquedos de um “filmezinho de criança” qualquer. Bem, o tempo passou e a animação se consolidou como uma de minhas paixões – e como uma novidade no mercado cinematográfico outrora dominado pela Disney.
Com Toy Story 2, a paixão se firma e ao filme, devo ainda outra descoberta. A brilhante sacada de Zurg e Buz me fizera ficar aficionado por Star Wars, mas a piada não é tão óbvia e superficial. A referência à obra de George Lucas é mais interessante. A exaltação do western através dos outros bonecos da coleção de cowboys de Woody reflete claramente o momento em que o cinema na década de 1970 assiste à ascensão da ficção científica (tema já presente no primeiro filme, na substituição e tensão entre Woody e Buz). E Toy Story 2 se revela melhor que o anterior, apontando já a reflexão deste último filme. O pinguim barulhento, a história de abandono de Judie pela dona crescida, a crise de Woody: tudo antecipava o momento do esquecimento dos brinquedos, da substituição e desapego.
Este é o foco em Toy Story 3. E é maravilhoso rir das sacadas geniais acerca de Barbie e do “metrossexual de plástico”, do brinquedo shakespereano e da versatilidade do Senhor Cabeça de Batata. Mas o que é mais maravilhoso é se identificar com aquele personagem que amadurece (ou que é obrigado a amadurecer) para a vida.
Completei recentemente um ano de casado! Maravilha! Família é bênção, esposa é bênção, casamento é bênção! Mas crescer dói! Não é simples a decisão, as responsabilidades que são suas, os problemas que são seus. Como para Andy, chega para todos o momento de abandonar as coisas de menino e se aventurar pelo que está adiante. É bom?! Claro! Não troco meu casamento pela minha vida de solteiro por nada neste mundo. Mas algumas coisas que ficaram para trás deixam lembranças indeléveis e te fazem refletir acima de tudo, na efemeridade disso que chamamos de viver.
E se minha primeira impressão destes brinquedos à época do primeiro filme não foi nada boa, a última é extasiante. Pois se lá no início, ao querer ser grande, perdi boas coisas de menino, agora que grande sou, permito-me entrar em um cinema e verter grossas lágrimas por brinquedos virtuais, mas prenhes de uma humanidade tocante que me lembram que as melhores coisas da vida estão nas pessoas ao meu redor.
Que isso hein!?
ResponderExcluirAmei as informações,comentários e críticas sobre o cinema.
Que profunda reflexão: "as melhores coisas da vida estão nas pessoas ao seu redor"
Não me canso de admirar sua forma de escrever.
Na verdade, me mostraste uma correção necessária. Se o blog é em primeira pessoa, a beleza está nas pessoas ao Meu redor ;D
ResponderExcluirrsrsrsrsrs
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